A IA é um boom ou uma bolha?

No final de setembro, a Nvidia anunciou planos de investir até US$ 100 bilhões na OpenAI para financiar uma nova geração de data centers, enquanto a OpenAI se comprometeu a comprar milhões de chips da Nvidia para essas instalações. Dias depois, a OpenAI fechou um acordo multibilionário semelhante com a AMD. Celebrados pelos investidores, esses acordos também chamaram a atenção dos senhores. Para alguns observadores, eles se pareciam muito com os acordos de financiamento circular do final da década de 1990, quando fornecedores e clientes reforçavam as avaliações uns dos outros sem gerar valor real. A Bloomberg descreveu apropriadamente o padrão como uma "rede cada vez mais complexa e interconectada de transações comerciais" que alimenta um boom de IA de trilhões de dólares. O rápido desenvolvimento da IA está remodelando a tomada de decisões executivas e reduzindo os prazos. Não ter uma perspectiva clara sobre a IA não é mais uma opção. O capital está se movendo rapidamente, a infraestrutura está sendo comprometida em uma escala sem precedentes e as pressões competitivas estão se intensificando. Nesse novo ambiente, a velocidade e a intenção são importantes, e as empresas que prosperarão serão aquelas que investirem recursos onde os retornos forem duradouros, identificarem as tendências a serem adotadas e evitarem apostas que não se sustentem. Este artigo traçará as forças que estão impulsionando o boom, discutirá os riscos de uma bolha e delineará as escolhas práticas que os líderes enfrentam ao pesar a oportunidade e a exposição. Inovação e especulação O principal desafio que os líderes enfrentam hoje é como equilibrar a promessa de longo prazo da IA com a pressão de curto prazo para gerar retornos. A economia da IA está sendo impulsionada por duas corridas: uma disputa geopolítica pela supremacia e uma corrida financeira para gerar os retornos necessários para justificar níveis surpreendentes de investimento. Quando essas duas forças convergem, elas se amplificam mutuamente, aumentando o risco de ultrapassagem. Os paralelos com bolhas anteriores são impressionantes. Durante a era ponto-com, o capital inundou a infraestrutura de telecomunicações, apostando na demanda exponencial da Internet. Quando essa demanda ficou defasada, houve uma cascata de falências em todo o setor. O problema não era a falta de potencial da Internet, mas o fato de o momento da aplicação do capital ter ultrapassado a adoção. Hoje, vemos sinais semelhantes. A concentração do mercado atingiu níveis alarmantes: as empresas de tecnologia "Magnificent Seven" representam mais de um terço do S&P 500, um nível duas vezes maior do que o das principais empresas de tecnologia durante a bolha de 2000. As avaliações das empresas de IA são baseadas em projeções agressivas e não nos lucros atuais. Estruturas complexas de negócios, como o financiamento da OpenAI por meio de contratos com fornecedores, assemelham-se à circularidade de bolhas passadas. Enquanto isso, grandes somas estão sendo investidas em data centers, cadeias de suprimentos de chips e modelos fundamentais, mesmo com a adoção corporativa avançando com mais cautela do que o entusiasmo do consumidor. A adoção foi dividida. Os consumidores adotaram o ChatGPT em velocidade recorde, atingindo 100 milhões de usuários mais rapidamente do que qualquer outro aplicativo anterior. As empresas continuam hesitantes. O MIT constatou que os ganhos de produtividade são elusivos em escala e aconselhou o foco em usos de alto valor, incorporando a IA nos fluxos de trabalho e aumentando gradualmente. De acordo com o Índice de IA de Stanford, a adoção comercial subiu de 55% no ano anterior para 78% em 2024. No entanto, as empresas continuam hesitantes, citando privacidade, confiabilidade, conformidade, segurança e risco financeiro como as principais barreiras. O entusiasmo em torno do uso pelo consumidor ainda não se traduziu em uma ampla mudança empresarial. A construção da infraestrutura pressupõe que a adoção virá em seguida, mas as empresas raramente se comprometem sem uma linha de visão dos retornos financeiros. Se a demanda atrasar, a construção maciça de chips e data centers de hoje poderá criar um excesso de capacidade. Essa dinâmica é ainda mais exacerbada pela política industrial e pelas prioridades de segurança nacional que priorizam o investimento em detrimento do consumo, contribuindo para o crescimento, mas também ampliando o risco de uma bolha. Política industrial, fluxos de capital e a geopolítica da IA A mão do governo já moldou os ciclos tecnológicos dos Estados Unidos antes, geralmente criando incentivos, fazendo investimentos direcionados e depois se afastando para deixar o setor crescer. Na década de 1990, Washington impulsionou a expansão da Internet privatizando a infraestrutura de rede, aprovando a Lei de Telecomunicações de 1996 para abrir os mercados e promulgando a Seção 230 para limitar a responsabilidade da plataforma. Essas escolhas criaram as condições para o crescimento, o investimento e a inovação. Hoje, os formuladores de políticas estão aplicando um manual semelhante à inteligência artificial. Tanto o governo Trump quanto o governo Biden enfatizaram a política industrial, enquadrando a IA não apenas como uma oportunidade econômica, mas também como um imperativo de segurança nacional. A mensagem implícita para as empresas é que a velocidade é mais importante do que a cautela. O modelo estatal da China canaliza capital para a IA a fim de criar campeões nacionais e reduzir a dependência da tecnologia dos EUA. A Europa tem se concentrado no gerenciamento de riscos, mas os temores de excesso de regulamentação fizeram com que os CEOs alert assem sobre a perda de competitividade. Em resposta, Bruxelas lançou o AI Continent Action Plan e uma iniciativa Apply AI de 1 bilhão de euros para acelerar a adoção, reduzir os custos de conformidade e transformar a Europa em líder global em IA. Ao mesmo tempo, o financiamento de risco para start-ups de IA excede o que foi visto em ciclos anteriores de tecnologia de criptografia e mobilidade, com fundos soberanos adicionando outra onda de investimento. Esses atores estão investindo deliberadamente antes da adoção, apostando que a demanda acabará se materializando. Se isso não acontecer, o excesso de oferta poderá deixar para trás ativos ociosos, como aconteceu com a fibra de telecomunicações não utilizada após o crash das pontocom. As empresas, no entanto, enfrentam uma decisão diferente. Para elas, o desafio não é financiar ou não a próxima onda de infraestrutura, mas como adotar a IA de forma a fortalecer seus próprios negócios. As empresas que sobreviveram ao colapso das pontocom, como a Amazon, que se concentrou incansavelmente na construção da infraestrutura para o comércio eletrônico, fizeram isso vinculando o investimento em tecnologia ao negócio, e não ao impulso especulativo. Entendendo as restrições O capital e as políticas estão acelerando a corrida da TI, mas as restrições limitam seu ritmo. Terra, mão de obra e energia impõem limites rígidos à rapidez com que a adoção pode ser ampliada. Esses limites criam escassez: os pioneiros garantem capacidade e vantagem, enquanto os retardatários ficam para trás. Para entender como essas restrições afetam a trajetória da TI, é útil revisitar a ideia da tríade da IA: computação, dados e talento. Esses elementos definiram a última década de desenvolvimento da IA. Surgiu uma nova tríade: terra, mão de obra e energia. Os data centers precisam de locais grandes com acesso a energia e água, e as comunidades estão resistindo à sua presença. A escassez de mão de obra vai além dos engenheiros, abrangendo profissões especializadas, como eletricistas, trabalhadores da construção civil e técnicos. A energia é a restrição mais difícil: A Goldman Sachs projeta que o consumo dos data centers dos EUA dobrará até 2030, ameaçando a economia do dimensionamento sem soluções sustentáveis. A TI pode ser uma tecnologia de uso geral, mas sua infraestrutura não é infinitamente escalável. Para as empresas, isso significa considerar a nova tríade diretamente na estratégia. Garantir contratos de energia de longo prazo, investir em parcerias de mão de obra com escolas de comércio e trabalhar com comunidades locais no uso da terra podem reduzir a exposição a gargalos. As empresas que anteciparem essas pressões e bloquearem a capacidade antecipadamente estarão mais bem posicionadas para capturar retornos duradouros do que aquelas que presumem escalabilidade ilimitada. Isso é uma bolha? Sem dúvida, nem todo mundo vê uma bolha. O CEO da Nvidia, Jensen Huang , argumenta que a demanda por IA é estrutural e não especulativa, comparando o desenvolvimento atual com o "início de uma nova revolução industrial". Em uma entrevista com Ben Thompson, da Stratechery, Sam Altman descartou as preocupações de que os investimentos atuais em IA sejam insustentáveis, enquadrando a estratégia da OpenAI como algo que vai além dos chatbots e passa a ser IA agêntica e uma plataforma que conecta infraestrutura e aplicativos. "É extremamente difícil ter infraestrutura suficiente para atender à demanda", observou ele, ressaltando a tensão entre o capital inicial e os retornos atrasados. Em seu livro de 2024, Co-Intelligence: Living and Working with AI, Ethan Mollick discute como a IA produz melhorias práticas e gradativas nos locais de trabalho e nas salas de aula. Ao aumentar a capacidade humana, produzindo ganhos pequenos e cumulativos, a IA se desenvolve gradualmente em direção a um impacto mais amplo. A divergência de opiniões reflete a incerteza central, já que as bolhas dependem menos do impacto de longo prazo de uma tecnologia e mais do alinhamento dos ciclos de adoção e de capital. A Internet foi revolucionária, mas isso não impediu o colapso das pontocom. A TI pode muito bem remodelar os setores globais, mas seus fundamentos financeiros ainda podem vacilar. Como os líderes podem capturar valor Para os líderes empresariais, o sucesso exige foco e rigor. Confiar na IA como uma solução rápida é um erro. Uma mudança real requer a construção de uma cultura pronta para se adaptar à IA, fazendo apostas focadas em domínios de alto valor e incorporando a IA às operações. As empresas que resistiram ao colapso das pontocom, como eBay e Netflix, fizeram isso por terem um foco estratégico aguçado e uma rápida adaptação operacional. Elas resistiram a desvios impulsionados pelo hype. Hoje, o Walmart usa bots de inventário com IA para reduzir o excesso de estoque em 35% e aumentar a precisão em 15%, reduzindo os custos e melhorando as taxas de estoque e a experiência do cliente. A TI também acaba de assinar um acordo com a OpenAI para permitir que os usuários comprem seus produtos diretamente pelo ChatGPT. Os vencedores incorporarão a IA onde ela reforçar sua principal vantagem, e não em todas as novas tendências. Os líderes devem colocar recursos na governança de dados e redesenhar as organizações para que as pessoas e a IA possam trabalhar juntas de forma eficaz. A preparação do pessoal envolve a requalificação contínua e a evolução das funções. A paciência é vital, pois a transformação empresarial é uma jornada de vários anos com captura de valor ao longo do tempo, em vez de uma busca por ganhos especulativos. Se os executivos veem a IA apenas como uma competição de gastos, eles não entendem o ponto. O desafio é criar uma governança que impulsione a inovação e proteja a sociedade. Como argumentei em Governance at a Crossroads, a política de TI funciona melhor quando evolui com a tecnologia, impulsionando a inovação sem perder a segurança e a justiça. Os sandboxes regulatórios oferecem ambientes controlados para experimentação, mantendo a responsabilidade, e as parcerias público-privadas podem incorporar transparência e gerenciamento de riscos. As empresas que se envolvem desde cedo ganham influência sobre como a economia de IA é governada, ajudando a garantir que a adoção seja acompanhada de resiliência, supervisão justa e confiança duradoura na tecnologia. . . . A inteligência artificial é ao mesmo tempo de longo alcance e frágil. Sua trajetória de longo prazo aponta para a redefinição dos setores, a remodelação do trabalho e a alteração do equilíbrio do poder global. No curto prazo, a rivalidade geopolítica se combina com a política de desregulamentação e o capital especulativo, criando condições que se assemelham muito às bolhas do passado. A lição da história não é que as bolhas tornam as tecnologias inúteis, mas que elas distorcem o tempo e as expectativas. Ignorar a IA é arriscar-se à obsolescência. O sucesso virá de uma adoção disciplinada e de uma governança corporativa pragmática. Os líderes que se concentrarem na incorporação da IA aos fluxos de trabalho e no cultivo de uma força de trabalho capaz de se adaptar capturarão um valor duradouro. Aqueles que se engajarem cedo nas estruturas de governança emergentes ajudarão a moldar as regras da economia da IA. Este momento será lembrado como o início de uma economia impulsionada pela IA ou como um exagero, dependendo das decisões que os executivos e investidores tomarem hoje. Mais recursos O "Workslop" gerado por IA está destruindo a produtividade Os artigos de IA generativa mais lidos da HBR em 2025 até o momento Como lidar com o problema de controle de qualidade da IA generativa Os perigos de usar a IA para substituir empregos de nível básico O que as empresas com pilotos de IA bem-sucedidos fazem de diferente Não deixe que uma falha de IA prejudique sua marca

A IA é um boom ou uma bolha?

Resumo.

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